BURRO PREGO

Ana Maria menina boa
Mora na casa grande
Da fazenda Canoa
Ela é muito educada
Sempre gentil camarada
Inclusive no trato com a bicharada

Na fazenda Canoa
Tem tudo que é bicho
Galinha vaca marreco
Pato tatu avestruz
Tem porco de todo tamanho
Arara papagaio pavão
Tiú tatu passarinho
Cavalo
Mico atentado
Subindo e descendo o telhado
E a criação de coelho
Pêlos brancos
Olhos vermelhos

Ah! Tem um, que não posso esquecer
O bicho mais importante
De todos os arredores
É o burro Prego
Que de burro não tem nada
Eta! Bicho esperto!
Com ele ninguém pode

Veio um dia de férias à fazenda
A prima de Ana, a Valesca
Menina mimada e insolente
Veio a fazenda obrigada
Para dar folga aos pais
E sossego a empregada

Mas com doçura a menina Ana
Recebeu-a com alegria e amizade
- Prima seja bem vinda
Fique muito a vontade
Aqui na fazenda Canoa
Tem muita natureza
E uma grande liberdade

A prima de nariz empinado
Foi rude com  Ana Maria
- De onde eu venho
Isso sim, que é vida
Aqui não há novidades
É só um lugar de bichos esquisitos
Carrapicho, carrapato, mosquito
E um monte de estrume
Não estranhe, sou franca, prima
É melhor que se acostume
Pois isso não combina
Com meu estilo de vida
Nem com meus finos costumes.

- Tudo bem prima Valesca,
Alguns dias no campo
Farão muito bem a você
Com toda certeza !
Falou Ana docemente
Enquanto Valesca se gabava
Das vantagens da cidade
E insistia em desprezar
As riquezas da natureza

Pastando bem pertinho às duas
Em um campo cercado
Estava o burro Prego
Que de burro não tem nada
Eta! Bicho levado!

Não gostou do tom conversa
Que acabara de ouvir
E começou a matutar uma peça
“Gente da cidade é mesmo esquisita
Sem o campo a cidade não vive”
E com esse pensamento
Deixou passar o tempo

Certo dia, após longa chuva
Valesca quis passear
A terra era só lamaçal
Poça d´agua por todo lugar
O carro de seu tio estava distante
E Valesca não queria sujar
Seus caros sapatos de marca

Ali por perto quem passeava?
Burro Prego sequinho e tranqüilo
A menina não pensou duas vezes
- Vem cá seu bicho lorota
Você que gosta de sujeira
Vai evitar que eu pise em lameira- suje minhas botas

Burro Prego
Que de burro não tem nada
Eta! bicho astuto!
Encostou-se gentilmente
Junto ao alpendre da sala
Fez uma pose elegante
Para a menina montar

Sentada sobre os lombos de Prego
Valesca com seu nariz empinado
Sentiu-se dona do pedaço
Segurando em seus arreios
Gritava arrogante
- Vamos animal
Quero atravessar o quintal

Burro prego não perderia
Tal oportunidade
E saiu em disparada
Passou lama, passou poça,
Passou grama, passou roça
Passou mato, passou ladeira
E Valesca em desespero
Gritava por socorro,
A torto e a direita

Mas mesmo em profundo apuro
Não baixou a petulância
- Para seu burro atrapalhado
Agora você tá encrencado!
E o Prego nem ai

- Para seu bicho esquisito
- Você vai ser despedido!
E para seu desespero
Mais ainda o bicho corria
Vendo toda aquela valentia

Percebendo que seus insultos e ameaças
Não davam resultados
Valesca tentou a trapaça
- Burro, seu burro embirrento
Para agora, eu ordeno
Te dou um saco de milho
Outro cheio de farinha
E o burro se divertia

Já vivendo um pesadelo
A menina Valesca resolveu
Apelar para a última instância
E usar de educação
- ÔH seu burro Prego
Por favor eu te peço
Pare de galopar disparado
E ponha-me no chão
Deste tão belo cerrado

Burro prego
Que de burro não tem nada
Eta! Burro engraçado!
Acenou com a cabeça
E atendeu ao pedido da moça
Só que não de vagarinho
Mas de supetão, de uma vez
Jogando a mimada granfina
Em um lugar bem macio
Um monte de esterco revolvido
Preparado para o plantio

De uma vez a metida
Caiu no monte fedido
Enfiou seu nariz empinado
Em monte de estrume e serragem
Levantou-se limpou seu orgulho
Depois seu rosto corado
Sacudiu o seu vestido
Procurou seu sapato quebrado

Quando se armou de ira e fúria
Para ofender nosso amigo
Valesca fitou em seus olhos
E antes de abrir sua boca
Lembrou que foi ao seu pedido educado
Que o animal que sereno lhe olhava
Atendeu sua solicitação
Lançado-a em segurança ao chão

Então refez o seu discurso
- Seu burro o senhor me desculpe
Tantas palavras horríveis
Acho que agora entendo
O que me disse Ana Maria
Já livre de seu orgulho
Pôs-se a chorar a menina

Burro Prego
Que de burro não tem nada
Eta! Burro amigo!
Abanou suas orelhas
Ajoelhou-se bem pertinho
Da menina arrependida
Passando-lhe confiança
De leva-la em montaria
Para a casa da fazenda
Em completa segurança
Entendendo a atitude de Prego
Valesca montou em seu novo amigo

No caminho de volta a casa grande
Prego, passou de propósito
Por alguns lugares onde a menina
Veria coisas importantes
Para completar o aprendizado
Do qual jamais esqueceria
E calmamente retornando
Mostrou-lhe cenas incríveis

A menina ficava encantada
Com tudo que observava,
Viu o capim forrando a terra
Viu a vaca comendo o capim
Lembrou que da vaca viria
O leito gostoso e saudável
Da vaca ainda o hambúrguer
E ainda seu sapato de marca
Viu no arado da terra
O esforço do burro Prego
Viu belos favos de abelha
Ocupadas em seu ofício
Viu brotando da terra
Folhas verdes, nutritivas
Viu árvores frondosas
Belas e frutíferas
Gerando sombra de graça
Para quem quer que precise
E ainda limpando o ar
Com sua função fotossíntese
Viu ainda dona galinha
Cuidando de sua ninhada
Ciscando a terra molhada
Servindo minhoca fresquinha
Para uma turminha animada

Foi necessária esta experiência
Para que Valesca, a intolerante
Pudesse enxergar a beleza
Que no auge de sua arrogância
Não a deixava experimentar

Essa foi uma lição sem igual
A lição do burro Prego
Que de burro não tem nada!
Eta! Bicho especial!

Aproximando-se da casa grande
O circo já estava armado
Com pião por todo lado
Todo mundo em desespero
Já declarando castigo
Severo e merecido
Para o perigoso burro fugido

Quando ao longe avistaram
Valesca sobre o lombo do Prego
Em vistosa montaria
Ficaram de boca aberta
Pela calma que a cena trazia

Chegando bem próximo
De todo povo cismado
Valesca montada no Prego
Com um sorriso suave
Todos, inclusive Ana Maria
Viram algo diferente
- Oi prima, oi todos
Disse a menina sorridente
Hoje foi um dia maneiro
Vou marcar no calendário
Pra lembrar o ano inteiro

Aprendi com a sabedoria de um burro
Como a vida é interessante
E que na terra existe uma lógica
Bastante intrigante
Não existe ninguém melhor
Mais fino ou mais importante
Sendo todos necessários
Para uma vida empolgante
Equilibrada
E muito mais gratificante

Burro Prego
Que de burro não tem nada
Eta! Bicho camarada
Olhou para Ana Maria
Fez um sinal com cabeça
Deu um abano de orelhas
E foi saindo de cena
Assim, como um sábio faria.

SAPO BENTO

Sapo Bento na beira do rio
Apesar do frio
Cantou, cantou que encantou
Dona sapa Leonora
Casou e mudou-se feliz
Para uma bela lagoa

Mas não é que o sapinho
Após seu casamento
Mudou de casa
E também o comportamento
Vejam só que o sapo Bento
Só canta agora
Com acompanhamento
De orquestra
Ou de algum instrumento

Feito suas exigências
Colocou-se a ensaiar
Com seu violão antigo
Vive agora a incomodar
Esposa, vizinhos, amigos
Em todo tempo
Em todo lugar

Cantar ele canta bem
Mas tocar é outra história
Não consegue entrar no tom
No delem delem da viola
Longo tempo já passado
Nem um acorde bem feito
Mas Bento não toma jeito
Garante aprender bem direito
E uma orquestra formar

Após um dia inteiro
No delem delem rotineiro
Dona sapa Leonora
Rodou sua saia florida
- Bento, seu sapo teimoso!
Preciso dormir meu querido
Deixa a viola folgar
E meus ouvidos descansar!
Bento diante do pedido
Ficou muito ofendido
Se suas notas eram sinfonia
Por que Leonora bradaria?

Depois disto o sapo ficou triste
Abandonou sua amiga viola
Deixou os ensaios de horas
Deixou o seu entusiasmo de sempre
Deixou até de lavar o pé
E foi nessa ocasião
Que pegou seu famoso chulé
Nem seu amigo Mané
Aguentou a tristeza do amigo

Dia desses, cabisbaixo
Ele pôs-se a pensar
Andou pelos cantos da casa
Encostou-se na quina da pia
E ainda não entendia
Por que sua melodia
Não agradava a freguesia

Ainda pensativo
Sapo Bento foi passear
Perto da lagoa antiga
Onde tantas vezes sua cantiga
Tornou as noites mais lindas
De repente, ao longe percebeu
Vindo do Brejinho Oleiro
Que uma linda música se ouvia
Tocada com tamanha maestria
Como a tempos Bento não via
Ouviu também um soluço
Como alguém que muito sofria
Chegou perto e viu claramente
Um sapinho tocando viola
Com tanta beleza e harmonia
Que no peito Bento sentia

Foi mais próximo com cuidado
E com uma palavra amiga
Elogiou o triste seresteiro
- Amigo não pude evitar
Sua música é tão bela
Permita-me o prazer de escutar
Então o sapinho respondeu
- Pode se achegar companheiro
Meu nome é Ribeiro
Posso apresentar-te acordes
Mas minha grande tristeza
Dia após dia
É não conseguir entoar
Uma só melodia

Bento ao ouvir tal história
Pode melhor refletir
Em sua própria trajetória
E uma luz brilhou em sua mente
Então lhe falou mansamente
- Amigo Ribeiro, ele disse
Vamos mudar nossa história
Eu também já fiquei muito triste
Por não tocar bem minha viola
Mas se unirmos nossas forças
Vamos realçar nossos dons
Será uma boa aventura
E teremos muita alegria
Eu canto afinado,
Você toca no tom
Uma bela harmonia

Após unirem esforços
Grande foi o resultado
Hoje são muito famosos
Por todo o mundo brejeiro
Nos rios, riachos e lagos

E foi assim que surgiu
A primeira dupla sertaneja
Dos sapinhos do Brejinho Oleiro
“BENTO E RIBEIRO”
Mais que uma dupla:
Amigos verdadeiros!

MI BAILA(RINA)


A menina insiste em ser criança em brincar todo dia e toda hora. Ela flutua entre doces e danças. Ela não quer medidas quer seu tempo de ser feliz. A menina corre com vento, pinta e borda, suja o nariz. Ela brinca de criar, o seu muro é o seu país. Ela não sabe da vida, ela não quer salvar o mundo. Ela só quer um vestido de fita. Com sua alegria que contagia quer fazer natação e ser bailarina. Enquanto chove nas nossas cabeças deixa a menina brincar. Essa menina ri a toa, e compreende minha caduquice. Ela perdoa meus exageros e tolera meus destemperos. Com ela volto no tempo posso de novo ser criança. Brincadeiras sem limites, então me lembro o quanto fui livre. Por isso a menina quer ser criança. Porque infância é só uma vez. E de tudo que se ganha só se carrega uma. Doces ou amargas lembranças. Então, vamos nos acalmar . E deixar a menina ser criança.

O LÁPIS-GIRAFA ESCOVA DE DENTES

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Depois que foi arrancado bruscamente do meio de seus semelhantes ainda recém produzido e estocado em uma papelaria... se bem que foi só a compra escolar das crianças.. o jovem Lápis-girafa foi adotado pelas escovas de dentes da casa. Ali sua vidinha recomeçou. Aprendia tudo sobre higiene bucal, hálito bom e mau, cáries, placa bacteriana, fio dental e coisa e tal. A cada dia sentia-se uma autêntica escova de dentes. Mas ele estranhava porque nunca havia sido requisitado para esse seu chamado higiênico tão importante. Nem mesmo as crianças lhe davam a honra do uso. Apesar de sempre lhe fazerem um carinho ou uma graça. Começou a sentir-se ignorado, sem utilidade, incapaz. Dona Branca, a escova mais velha de todas já com suas cerdas muito abertas, sabia que em pouco tempo não estaria mais ali, para consolar seu filhinho diferente. O chamou então para uma conversa de escova para lápis e lhe disse toda a verdade: Meu filho, você é adotado! Você é um lápis. Uma das crianças da casa te achou tão lindo que não quis te desgastar e te colocou aqui só pra te apreciar na hora da escovação. Te criamos com muito amor e sua presença foi nossa alegria aqui na latinha verde, então te direi algo muito lindo. Nós mantemos a boquinha das crianças limpas e saudáveis com a ajuda do Sr. Creme Dental, mas você meu querido, tem um chamado especial. Com teus riscos um milhão de possibilidades se abrem, as idéias se materializam e os sonhos se confirmam, ficando o mundo assim mais interessante e rico de formas e conhecimento! Então o Lápis-girafa com os olhinhos cheios d´agua deu um beijo agradecido na mamãe escova, pois, feliz agora compreendia sua função e não ficou chateado por ser adotado não. Pois lá bem no fundo do seu coraçãozinho de lápis ele sabia, que pai e mãe é quem cria.
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