VENTANIA

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Esta noite, um vento repentino,
meio fora de rota entrou sem bater na porta e agitou meu quarto inteiro. Cantarolou ao pé do meu ouvido, gelou meu travesseiro, despenteou meus cabelos, despertou móveis e objetos queridos, engilhou meu vestido passado, umedeceu meu par de sapatos e saiu com forte zunido fazendo a curva no meu umbigo. E saiu tão ligeiro, tão ligeiro...que não tive tempo...
Tempo de lhe dizer que a sua visita me acordou de um pesadelo. Que assanhados meus cabelos, curtiram o embaraço e brincaram de abraços. Guarda-roupas, escrivaninha, penteadeira, livros e bijouterias, sentiram-se acariciados. Meu travesseiro gelado, só pediu um abraço apertado. Meu vestido engilhado, estava mesmo acalorado e sentiu-se bem melhor, obrigado. Meus sapatos umedecidos, soltaram uns poucos espirros, mas com isso espanou a poeira que dormia tranquila e desavisada na sua fivela cromada. E aquela curva no umbigo? Ah! fez cosquinha achei graça! Foi manobra de dar inveja a esquadrilha da fumaça!
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ps:
ah! e não pensem que a poeirinha virou uma sem-teto. Pegou carona com vento e voou sorrateira pra fixar moradia em uma fresta entre os livros e penteadeira.
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